Pra que servem os jornais de hoje em dia?

Aprendi a ler jornal com meu pai. Ele lia o Globo. Ali por volta dos 14 anos comecei a ler o Jornal do Brasil. Achava o máximo ler as colunas do Moacyr Werneck, Veríssimo, Zuenir Ventura, Fritz Utzeri e outros mais. Tudo isso somado ao Caderno B e o Idéias, que traziam cultura e mais cultura, mesmo que na época grassasse a ditadura.

newspapers-444447_1920
Estava entrando no ensino médio – no meu tempo era chamado de 2º grau –. Um pouco depois, já trabalhando como menor aprendiz do Banco do Brasil, na agência da Praça da Bandeira, comecei a ler o Pasquim. Paulo Francis, Millôr, Ziraldo, Fausto Wolff, Armindo Blanco, Reinaldo, Aldir Blanc, Ivan Lessa e tantos outros preencheram minha adolescência com suas palavras. Eu tinha 15 anos. Mantive o hábito até o famoso hebdomadário fechar.

Na faculdade, já com 18 anos, eu agreguei a Folha de S. Paulo como um dos jornais que eu gostava de ler. Eram outros tempos. Já adulto assinei a JB, mas infelizmente ele findou.

Mantive a assinatura da Folha durante muitos anos. Até que, definitivamente, o diário virou o timão para estibordo e se tornou algo que não conseguia mais ler, apesar do Janio de Freitas e do Xico Sá.

Outro dia, aqui em casa, quebrei um copo e cadê que eu achava jornal velho para embrulhar os restos mortais (e fatais) do copo? Concluí: Hoje em dia, os jornais não servem nem para embrulhar caco de vidro.

Como tentar subornar um sultão com um livro

Abdul-Hamid IICerta vez, tendo uma sociedade capitalista francesa solicitado a Abdul-Hamid determinada concessão, tratou, naturalmente de conquista a boa vontade do soberano. Receosa, porém, de que uma oferta direta pudesse ofendê-lo, mandou encadernar quantidade bastante expressiva de notas de banco, dando ao livro assim formado uma capa onde se lia, em bela gravação dourada: História da França, por Jacques Dupuy.

Em audiência concedida pelo sultão, os portadores do livro, entre muitos cumprimentos, disseram-lhe:

– Sire, sabendo quanto amais nosso país, e gratos pelo apoio que ides dar à nossa empresa, atrevemo-nos a presentear-vos com este livro de Dupuy, que trata da história da nossa pátria.

O sultão recebeu o livro, folheou-o, impassível, sem demonstrar a mínima surpresa diante do insólito recheio. E respondeu:

– Muito vos agradeço, mas preciso fazer um reparo. Sei que a História da França escrita por Jacques Dupuy foi editada em dois volumes. E eu detesto obras incompletas.

– Sire – foi a rápida resposta do chefe da empresa –, não trouxemos o segundo volume porque ainda está sendo impresso, mas bem depressa o tereis em mãos.

À saída, dizia ele a seus companheiros:

– Eis o que nos vai custar os conhecimentos culturais deste sultão. O espertalhão sabe mais sobre nossos autores do que nós próprios.


ABDUL-HAMID (1842-1917) – Sultão da Turquia, reinou de 1876 a 1909, ano em que foi deposto. In: LACERDA, Nair – Grandes anedotas da história. p.19. Cultrix. São Paulo, 1977.

* Comprei esse livro num sebo, no Rio de Janeiro, em 1991.

Entenda o poder da televisão em menos de 5 minutos

“Porque menos de 3% de vocês leem livros. Porque menos de 15% de vocês leem jornais. Porque a única verdade que você sabem é a que sai dessa caixa preta*. Nesse exato momento há uma geração inteira que nunca aprendeu nada que não tivesse saído dessa caixa preta. Essa caixa preta é seu evangelho. É a revelação máxima. Essa caixa preta pode fazer ou tirar presidentes, papas e primeiros ministros. Essa caixa preta é a maior força que existe em todo o mundo de Deus”.

Esse discurso foi proferido por Howard Beale,um âncora de televisão que tem um colapso nervos,  interpretado por Peter Finch no filme “Rede de Intrigas” (1976). Qualquer semelhança não é mera coincidência com a atualade.

*Na tradução a palavra “tube“, o mesmo que tubo ou tela de televisão é traduzida como “essa caixa preta”.

É necessário ler para trabalhar em editora?

Apenas algumas poucas e esparsas reflexões sobre o que é trabalhar em uma editora.

Muita gente pensa que trabalhar em editora é uma das profissões mais belas do mundo. Até pode ser,  já que você está lidando com cultura e  divulgação da mesma através de uma das formas mais antigas, se não a mais antiga do mundo: caracteres impressos sobre uma superfície. A superfície não precisa ser necessariamente papel, pois a primeira prova da existência da escrita remonta a 4500 a.C., o que demonstra que a ideia não é nova.

42-23063090Alberto Ruggieri © Illustration Works/Corbis

Hoje, nem mesmo o papel tem a garantia de ser a forma definitiva como nos últimos 6 mil anos, isso quando me refiro aos primeiros papiros vindo até aos últimos best-sellers da semana. A forma eletrônica vem gradativamente ocupando espaço e se tornando quase que o meio definitivo de divulgação cultural.

Mas, na verdade, o que você espera quando resolve montar uma editora? Faça a si próprio algumas perguntas e as responda. É tudo isso e mais um pouco. Lógico que todos nós pretendemos ganhar dinheiro e, quiçá, ficar rico com alguma atividade, que bem se diga, lícita. Realmente há muito glamour ligado ao mercado editorial. Entretanto, o que se vê nos jornais, revistas e mídia em geral quando, por exemplo, de um lançamento de livro é apenas a ponta do iceberg. Até que aquele livro esteja pronto para ser lido, uma verdadeira linha de produção está por trás. Desde as reuniões para a escolha de uma capa que seja, não apenas representativa do conteúdo do livro, que seja compatível com o padrão editorial da editora e seja uma parte de sua identidade visual, podendo, assim, de alguma forma, ser identificada no verdadeiro mar que são as bancadas e prateleiras das livrarias e mostrar ao leitor que aquele livro é da editora tal e, certamente, a qualidade esta assegurada.

Da maior importância é o bom uso do vernáculo pátrio. Por isso que as traduções são tão rigorosas que, em alguns casos, como na poesia, é preferível que um falante nativo do idioma original traduza para a última flor do Lácio.

42-20313424Alberto Ruggieri © Images.com/Corbis

Até aí tudo bem, o processo é esse mesmo, indo até a adequação do texto ao segmento do mercado em que se pretende inserir o livro e, se os deuses assim permitirem, vender razoavelmente bem.

Quase todos os dias são recebidos originais, sinopses, indicações; além de se fazer necessária uma constante pesquisa para se descobrir um livro e um autor. É, como poderia dizer, um trabalho de formiguinha tão estressante e cansativo mentalmente quanto carregar pedras. Muitas vezes o editor (publisher) se assemelha a Sísifo.

O departamento comercial de uma editora também não está longe disso. É preciso ser agressivo comercialmente, mas sem deixar que a pressão do alcance dos objetivos (vender e, se possível, muito) ultrapasse o limite da sociabilidade. No grito ninguém ganha nada. No máximo, tal como os camelôs, anuncia o produto.

Em linhas gerais, é preciso uma perfeita parceria entre o editorial e o comercial para que, ao menos, as coisas fluam. A famosa troca de figurinhas tem que ser constante, mas sem formalidades exageradas. Bem, isso vai depender do tamanho da editora. Em editora pequena, vira-se para o lado e pergunta-se ao editor: “Aquele livro está em qual fase de revisão? Temos previsão de quando poderemos colocar à venda?”, ou “O que você acha de criarmos uma ação de marketing com as livrarias para este livro? Acho que dá para fazer isso, isso e mais isso”, diria o editor.

O mais importante é perseverar mesmo e não apenas acreditar no produto. Afinal, em tese, todo livro é um best-seller, mas só o será se for vendido em várias edições.

E, já que começamos falando em um certo romantismo numa das áreas mais profissionais da economia, podemos ler vários livros de grátis, mas não se iluda: esse tipo de leitura não é apenas prazer, mas parte fundamental do trabalho.

Nem todo best-seller é lido até o fim

Os motivos para um livro tido como best-seller ser descartado antes da página 50 são variados; porém, algumas opiniões são bem sinceras: ser “lento e chato”, ter uma “trama ridícula”, ou uma antipatia ao personagem principal, e mesmo objeções que o livro é (foi) “imoral”.

A pesquisa feita pelo site Goodreads, em artigo que saiu da seção de livros do jornal The Independent (Inglaterra), intitulado Fifty Shades of Grey and JK Rowling’s The Casual Vacancy are all too putdownable (algo como Cinquenta Tons de Cinza e Morte Súbita, de JK Rowling são muito descartáveis). Cabe uma explicação para a tradução do título do artigo. Onde está escrito “descartáveis”, leia-se “chatos” ou usando um neologismo “largáveis”.

imagem₢corbis.com

Segundo a pesquisa feita de acordo com os leitores do site/portal, cerca de 15% dos leitores desses livros, os largaram ou colocaram na prateleira antes de chegar à página 50.

Há que se entender, ou tentar entender, o que é um best-seller. Nem sempre um livro que vende bastante é o mais lido. Os motivos para se comprar o livro da moda é justamente por ser moda e por ter uma agressiva campanha de marketing, ou pelo fato de o autor já ter escrito livros realmente lidos pela maioria das pessoas que os compraram, como é o caso de JK Rowling, autora da série Harry Potter. O mais interessante é que a autora usou um pseudônimo (Robert Galbraith) para escrever um romance policial chamado The Cuko’s Calling que foi bem aceito pela crítica.

“Um escritor só começa um livro. Um leitor termina-lo.” (Samuel Johnson)

Os motivos para um livro tido como best-seller ser descartado antes da página 50 são variados; porém, algumas opiniões são bem sinceras: ser “lento e chato”, ter uma “trama ridícula”, ou uma antipatia do personagem principal, e mesmo objeções que o trabalho foi “imoral”. Algumas pessoas, disseram não gostar do novo livro da autora de Harry Potter por justamente não ter magia.

Uma nova pesquisa descobriu cinco melhores livros que os leitores arquivar antes da última página, que incluem a mais recente obra de JK Rowling e sensação erótica “Cinquenta Tons de Cinza”. Razões para o afundamento de um livro incluído tudo, desde a narrativa ser “lento e chato” para uma “trama ridícula”, uma antipatia do personagem principal, e mesmo objeções que o trabalho foi “imoral”. Ou ainda sobre o livro 50 Tons de Cinza, uma pessoa relatou sentir vergonha por todos nós, isto é, algo como ter vergonha alheia.

A vida é muito curta para se ler livros ruins.” (Schopenhauer).

Nem o best-seller “Comer, Rezar, Amar” escapou. Houve quem relatasse Não ter gostado da personagem principal.

Mas nada é definitivo na vida, como bem sabemos. Cerca de 40% das pessoas disseram ter quase uma “obrigação” de ler um livro até o final, mesmo que seja só para saber o final. Entretanto, ao se mexer um pouco mais na pesquisa vê-se que o número de pessoas que larga o livro aumenta em relação ao número de páginas. Cerca de 28% dos leitores abandonam o livro antes de chegar a página 100. O número de abandonos quase dobra em proporção a quantidade de páginas lidas ou enfrentadas. lidas

De tudo isso o que podemos concluir: gostar é algo realmente subjetivo.