Apenas algumas poucas e esparsas reflexões sobre o que é trabalhar em uma editora.
Muita gente pensa que trabalhar em editora é uma das profissões mais belas do mundo. Até pode ser, já que você está lidando com cultura e divulgação da mesma através de uma das formas mais antigas, se não a mais antiga do mundo: caracteres impressos sobre uma superfície. A superfície não precisa ser necessariamente papel, pois a primeira prova da existência da escrita remonta a 4500 a.C., o que demonstra que a ideia não é nova.
Alberto Ruggieri © Illustration Works/Corbis
Hoje, nem mesmo o papel tem a garantia de ser a forma definitiva como nos últimos 6 mil anos, isso quando me refiro aos primeiros papiros vindo até aos últimos best-sellers da semana. A forma eletrônica vem gradativamente ocupando espaço e se tornando quase que o meio definitivo de divulgação cultural.
Mas, na verdade, o que você espera quando resolve montar uma editora? Faça a si próprio algumas perguntas e as responda. É tudo isso e mais um pouco. Lógico que todos nós pretendemos ganhar dinheiro e, quiçá, ficar rico com alguma atividade, que bem se diga, lícita. Realmente há muito glamour ligado ao mercado editorial. Entretanto, o que se vê nos jornais, revistas e mídia em geral quando, por exemplo, de um lançamento de livro é apenas a ponta do iceberg. Até que aquele livro esteja pronto para ser lido, uma verdadeira linha de produção está por trás. Desde as reuniões para a escolha de uma capa que seja, não apenas representativa do conteúdo do livro, que seja compatível com o padrão editorial da editora e seja uma parte de sua identidade visual, podendo, assim, de alguma forma, ser identificada no verdadeiro mar que são as bancadas e prateleiras das livrarias e mostrar ao leitor que aquele livro é da editora tal e, certamente, a qualidade esta assegurada.
Da maior importância é o bom uso do vernáculo pátrio. Por isso que as traduções são tão rigorosas que, em alguns casos, como na poesia, é preferível que um falante nativo do idioma original traduza para a última flor do Lácio.
Alberto Ruggieri © Images.com/Corbis
Até aí tudo bem, o processo é esse mesmo, indo até a adequação do texto ao segmento do mercado em que se pretende inserir o livro e, se os deuses assim permitirem, vender razoavelmente bem.
Quase todos os dias são recebidos originais, sinopses, indicações; além de se fazer necessária uma constante pesquisa para se descobrir um livro e um autor. É, como poderia dizer, um trabalho de formiguinha tão estressante e cansativo mentalmente quanto carregar pedras. Muitas vezes o editor (publisher) se assemelha a Sísifo.
O departamento comercial de uma editora também não está longe disso. É preciso ser agressivo comercialmente, mas sem deixar que a pressão do alcance dos objetivos (vender e, se possível, muito) ultrapasse o limite da sociabilidade. No grito ninguém ganha nada. No máximo, tal como os camelôs, anuncia o produto.
Em linhas gerais, é preciso uma perfeita parceria entre o editorial e o comercial para que, ao menos, as coisas fluam. A famosa troca de figurinhas tem que ser constante, mas sem formalidades exageradas. Bem, isso vai depender do tamanho da editora. Em editora pequena, vira-se para o lado e pergunta-se ao editor: “Aquele livro está em qual fase de revisão? Temos previsão de quando poderemos colocar à venda?”, ou “O que você acha de criarmos uma ação de marketing com as livrarias para este livro? Acho que dá para fazer isso, isso e mais isso”, diria o editor.
O mais importante é perseverar mesmo e não apenas acreditar no produto. Afinal, em tese, todo livro é um best-seller, mas só o será se for vendido em várias edições.
E, já que começamos falando em um certo romantismo numa das áreas mais profissionais da economia, podemos ler vários livros de grátis, mas não se iluda: esse tipo de leitura não é apenas prazer, mas parte fundamental do trabalho.