Ontem, assisti ao filme “Trumbo”. O elenco é encabeçado por Bryan Craston e Helen Mirren. Ele interpretando o escritor e roteirista de cinema Dalton Trumbo. Ela interpretando a poderosíssima jornalista Hedda Hopper, que criava ou destruía reputações de obras cinematográficas, artistas, diretores e mantinha todos sob o medo da opinião de seus 35 milhões de leitores de sua coluna nos EUA. Trumbo foi um dos membros do grupo de roteiristas e artistas conhecida como os 10 de Hollywood. Todos foram condenados a um ano de prisão por ligações com o Partido Comunista dos EUA.
Vários nomes de peso da indústria cinematográfica norte-americana são retratados no filme como, por exemplo, John Wayne que foi um dos maiores perseguidores de colegas de profissão que eram comunistas ou supostamente comunistas. Além dele, também surgem as figuras de Kirk Douglas, que acreditou no trabalho de Dalton Trumbo e o procurou para escrever o roteiro de “Spartacus“, vencedor do Globo de Ouro de 1961 e foi dirigido por Stanley Kubrick. Houve quem negasse suas convicções políticas e delatasse (delação premiada com a garantia de emprego e fim das acusações de atividades antiamericanas) como o ator Edward G. Robinson, um imigrante romeno que se naturalizou norte-americano. O diretor austríaco radicado nos EUA, Otto Preminger foi o responsável pela redenção de Trumbo aoi contratá-lo para escrever o roteiro do filme “Exodus” e fazer questão de anunciar nos jornais que ele seria seu roteirista.
Dalton Trumbo e sua esposa Cleo durante durante os interrogatórios
do Comitê de atividades antiamericanas do senado dos EUA. Ao fundo Bertolt Brecht.
Esse filme conta um pouco da história de um período emblemático dos EUA, a “caça às bruxas”, ou seja, a perseguição aos cidadãos comunistas e os supostamente comunistas nas décadas de 1940 e 1950 (se estendeu até meados dos anos 1970). Aqueles que foram delatados ou tiveram suas ideias políticas foram afetados pelo medo criado e dirigido cujo principal vilão era o “perigo vermelho” e políticos oportunistas criaram comissões no congresso norte-americano que mais pareciam tribunais da Inquisição. Há uma cena no filme em que Trumbo, e passou onze meses na cadeia após ser condenado por ser comunista, se depara com um outro presidiário que varria o chão. Este era o mesmo político que o levara a depor na “CPI” e o condenara. Pois bem, o tal político foi preso por fraude fiscal.
A contextualização posso dizer que é perfeita e retrata muito bem a histeria que afetou a todos naquela sociedade. Havia uma lista negra em Hollywood e quem estivesse nela não era contratado. Não foram apenas os intelectuais e pessoas ligadas as artes, em especial, o cinema de Hollywood, aqueles que foram afetados, perseguidos, demitidos, censurados, calados, aviltados e viveram um inferno devido as suas convicções políticas.
O que ressalta a nós, brasileiros, é perceber que o ódio aos que pensavam diferente não difere muito do que vemos na atualidade. Há momentos, no filme, em que Trumbo teve um copo de refrigerante jogado sobre si por um homem que fora ver seu filme e o chamou de traidor. Ou o vizinho, que tão logo percebe quem era o novo morador, joga lixo e animais mortos na piscina da casa do escritor. Além disso, para sobreviver, era preciso trabalhar no anonimato criando roteiros e não assinando, entregando a amigos ainda não perseguidos para que assinassem como seus. Mesmo assim, com toda a perseguição e portas fechadas, Trumbo usando pseudônimos e sendo ghost writer ganhou duas vezes o Oscar sem que soubessem que ele era o roteirista dos filmes.