O que o brasileiro lê: pesquisa e fatos

Não é apenas por uma questão cultural-educacional que foi promovida a segunda edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Trata-se, também, de uma visão e um posicionamento de mercado. Tudo que envolve o livro vem sofrendo algumas transformações nos últimos anos como, por exemplo, novas formas de negociação entre editoras e livrarias, surgimento das grandes redes de livrarias, os hábitos de leitores e leitura que podem ser influenciados e determinados por interesses mercadológicos (a indústria do best-seller) entre outras. Além disso, há também a relação entre editoras e autores, novos autores procurando seu espaço, edição por demanda, produção independente e muito mais fatos deste universo.

Lógico que não comentarei todos aqui, pois me baseio apenas na questão da divulgação da leitura e a leitura como atividades essenciais do conhecimento e da cultura. Isto me preocupa. A cada ano é possível perceber que os alunos chegam ao segundo grau e até mesmo ao nível universitário sem ao menos terem feito da leitura um hábito cotidiano. Entretanto, segundo esta pesquisa, os estudantes brasileiros lêem 7,2 livros por ano. Porém, mais da metade são livros didáticos. Logo, leitura obrigatória. O número de livros lidos por conta própria, isto é, aquele que o estudante sentiu vontade de ler por si só, não passa de 1,2 por ano. Vejamos os números daqui e também comparados com dados de outros países:

A quantidade de livros aumenta conforme a classe social, a escolaridade e a região onde vivem. Entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, por exemplo, são 5,3 livros por ano, sem contar os didáticos. O índice é próximo dos registrados em outros países, como Espanha (5 livros por ano) ou Argentina (5,8). Na França, são mais de 7.

Ao mesmo tempo, a quantidade de livros lidos no Brasil por ano pelos estudantes, varia de acordo com a região. Há regiões como a Norte que só se lê o que é determinado pelos professores e escolas. Apesar de tudo, percebeu-se que houve um aumento da média de leitores e índices de leitura em relação a primeira edição desta pesquisa.

Outros dados interessantes que surgiram estão relacionados ao sexo que mais lê e também que tipo de livro é lido pela classe média (geralmente é a categoria social que compra livros no Brasil). Segundo os dados, as mulheres são mais leitoras que os homens. Talvez isto se deva aos números em grande escala das publicações populares dirigidas ao público feminino (Sabrina e congêneres); sendo assim, as mulheres representam 55% do total de leitores, e os homens ficam com os 45% restantes, lendo preferencialmente livros que tratem sobre história, política e ciências sociais.

Ainda, segundo a pesquisa, cerca de 43 milhões de brasileiros disseram ter lido um livro. Quase metade destes garantem ler pelo menos um livro por ano. Muito provavelmente livros didáticos ou paradidáticos de leitura obrigatória. Aqui cabe uma pergunta: Se quase 20 milhões de pessoas lêem regularmente um livro por ano, como uma edição de três mil exemplares (número médio) de um livro pode encalhar?

O público leitor regular no Brasil não é grande. Diria até que é ínfimo. Não podemos nos basear pelos números dos Best-Sellers que vendem muito mais por terem uma massiva quantidade de ações de marketing direto e indireto. Nem sempre estes números garantem que o livro foi lido. Não podemos esquecer da famosa cultura axilar. O cara compra o livro porque está na moda e coloca no suvaco para mostrar que está lendo. De repente lê por osmose.

Isto aconteceu com o livro Uma Breve História do Tempo, do físico Stephen Hawking, que muita gente comprou e não leu. O livro era um tanto complicado, tanto que lançaram um Guia do Leitor Para Breve História do Tempo.

Em linhas gerais, se nos basearmos pelos números de um recente estouro no mercado como um livro que prometia contar um segredo e, segundo a mídia, vendeu mais de 1 milhão de exemplares. Mesmo assim, neste caso isolado, o número de leitores em relação a totalidade da população brasileira é ínfima. Se hoje formos 200 milhões de brasileiro, apenas 0,5% leram o tal livro. Realmente um grande segredo que nem todos os brasileiros conseguiram saber como desvendar. Os dois livros mais citados foram a Bíblia (aqui uma das explicações para os tais 20 milhões que lêem regularmente um livro) e o Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato.

Quando se volta a pesquisa para o que lêem as classes sociais componentes da população brasileira, observou-se um dado interessante: a classe média passou a compra mais livros em sabos e bancas de jornais, o que denota um achatamento em seus rendimentos, pois o hábito da leitura é mantido, mesmo que com edições de baixo preço e livros usados. Neste ponto, pelo menos aqui no Rio de Janeiro houve um crescimento dos sebos (livrarias de livros usados) que passaram por uma maquiagem e tornaram-se locais cult, em vez daqueles estabelecimentos que mais lembravam um grande depósito empoeirado e com cheiro de mofo.

8 comentários sobre “O que o brasileiro lê: pesquisa e fatos

  1. Seus argumentos são todos válidos, com certeza o País perde muito em cultura. A falta de interesse para a leitura não é apenas pela ausência de costume. A qualidade nos livros tem mitigado muito. Não somente em livros mas em tudo que nos cerca. Veja os jornais (televisos ou impressos), novelas, filmes, exemplo é o Harry Potter, livro que vendeu muito, mas qual a cultura deixada?
    Um País que se preocupa mais com a morte da criança Isabela, do que com as crianças que passam fome e continuam longe da escolas, tem que ser repensado.
    PS – Adoro um bom sebo.
    Tchau.

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  2. Certamente, Simone, os sebos merecem e devem ser visitados com certa regularidade. Nos meus tempos de graduação era onde eu comprava boa parte dos meus livros, aqueles indicados nas bibliografias a cada semestre.

    Obrigado pela visita.

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  3. Oi Docinho!
    Vim desejar um final de semana iluminado, com paz e saúde!
    Beijinhos de RO!
    Parabéns pelo seu blog.

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  4. Se a classe média teve seus rendimentos achatados, mas manteve o hábito da leitura, a classe financeiramente inferior jamais teve dinheiro suficiente para cobrir os gastos com o básico e estritamente necessário. Para esses o livro é superflúo. Para eles vale a frase: alimento para cabeça não vai matar a fome…

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  5. Oi Jorge!

    Conforme o tempo e o dinheiro me permitirem, contando só os que leio por lazer,
    é mais ou menos 1 livro a cada dez dias em média, não importa o gênero, o autor, o idioma, a espessura ou se veio de sebo, biblioteca ou se é novinho em folha…

    (Bem, nos ultimos meses tenho lido muito em japones…)

    abração

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  6. Oi Marcia!

    Realmente não dá pra parar de ler. Diria que é um vício com enorme prazer e que não dá bode. 🙂

    Agora mesmo estou lendo “O Homem Que Confundiu Sua Mulher Com Um Chapéu”, do Oliver Sacks.

    A gurizada daqui está começando a se interessar por ler em japonês por conta da força que os mangás tem tido entre eles. Soube até que lançaram uma versão da Turma da Mônica em formato de mangá.

    ps. Maior Solão aqui no RJ.

    Abração.

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